Vida em Movimento #06 – Empreendedorismo feminino
Fundo musical.
Narrador:
“Vida em Movimento”, o podcast da Fundação Grupo Volkswagen.
Fundo musical.
Marcelo Abud:
Olá! Seja bem-vinda e bem-vindo ao Vida em Movimento. Eu sou Marcelo Abud, professor e podcaster.
Renata Pifer:
E eu sou Renata Pifer, internacionalista e integrante do time da Fundação.
Fundo musical.
Marcelo Abud:
Esse episódio encerra a primeira temporada do Vida em Movimento. Ao longo de 2020, fomos movidos pelo conhecimento compartilhado por convidados e convidadas muito especiais, em temas como inclusão de pessoas com deficiência na escola e no mercado de trabalho, mobilidade urbana e terceiro setor, além de aprendermos sobre a importância dos negócios de impacto social.
Renata Pifer:
Se você perdeu algum dos episódios, ou quer se aprofundar mais em nossas causas de atuação, acesse o site da Fundação, www.fundacaogrupovolkswagen.org.br, e confira os materiais disponíveis.
Marcelo Abud:
Você sabia que a computação científica foi criada por uma mulher no século 18?
Renata Pifer:
Durante a 2ª Guerra Mundial, outras cinco mulheres foram responsáveis por escrever as instruções para o desenvolvimento do primeiro computador programável e totalmente eletrônico do mundo!
Marcelo Abud:
Apesar desses grandes feitos, elas ainda são minoria no mercado da tecnologia. Uma pesquisa feita em 2019 pela consultoria McKinsey, aponta que, globalmente, a presença feminina em cursos do ensino superior nessa área é de apenas 35%, e que elas chegam a ocupar menos de 20% das vagas disponíveis no mercado de trabalho.
Renata Pifer:
E diante desse cenário, ficamos muito felizes em compartilhar um pouco da história da nossa convidada de hoje: uma mulher negra que trabalha com tecnologia e atua para aumentar a presença feminina nessa área.
Marcelo Abud:
Ela é a Silvana Bahia, Co-diretora executiva do Olabi, e Coordenadora do PretaLab, organização que foi uma das finalistas do 1º Prêmio Fundação Grupo Volkswagen na categoria de Mobilidade Social.
Renata Pifer:
Seja muito bem-vinda, e obrigada pela participação nesse sexto episódio do Vida em Movimento!
Marcelo Abud:
Silvana, explica pra gente como você chegou no Olabi, e o que é o PretaLab?
Silvana Bahia:
Oi gente, muito obrigada pelo convite. É um prazer estar com vocês. Eu sou uma profissional da área de comunicação, trabalhava no Observatório de Favelas há uns cinco anos já, e eu queria entender um pouco mais sobre tecnologias, entendendo o que que é ser um maker no contexto do Sul global, no Brasil. E aí cheguei no Olabi para fazer comunicação, meio que uma Relações Públicas da organização, e durante o ano de 2016 eu comecei a circular muito por esses espaços de inovação, de tecnologia, de cultura maker no Brasil e na América Latina. E em 2017, eu, muito tocada pelo fato de fazer esses eventos circularem nesses espaços, e ver que tinha pouquíssimas pessoas negras, e que muitas vezes eu era a única painelista mulher e negra, eu comecei a pensar num projeto, né. Eu falei: “Cara, eu tenho que ter alguma ação, já que eu tô aqui olhando para isso, e que envolvam mulheres que parecem comigo nessa discussão”. Foi quando nasceu essa ideia de criar um projeto focado em mulheres negras nesse universo da inovação. E você perguntou o que é o Pretalab. É um projeto-causa que trabalha pela causa de incluir mulheres negras no universo da inovação e das tecnologias, querendo mostrar o quanto isso é urgente e pertinente.
Renata Pifer:
O PretaLab foi um dos finalistas do 1º Prêmio Fundação Grupo Volkswagen, realizado em 2019, e participou de todo o programa de aceleração da Yunus Negócios Sociais, em parceria com a Fundação. O que essa experiência agregou ao projeto, Silvana? Aproveita e conta pra gente também como foi a atuação de vocês nesse ano de 2020.
Silvana Bahia:
Eu pude aprender algumas ferramentas e entender que o nosso projeto, na verdade, é um negócio de impacto social sim. E ali entender um pouco como que a gente cria indicadores, um produto, né, um serviço com começo meio e fim. A gente foi para essa aceleração com a ideia de formatar, de estruturar esse braço mais corporativo da Pretalab, que é esse diálogo com as empresas, como que a gente pode contribuir para esse mercado na construção da diversidade, entendendo principalmente que diversidade não é algo que vem pronto, que não é uma consultoria pontual, que não é apenas fazer uma conexão entre talentos negros e as empresas que querem contratar, mas, também, como que a gente colabora da porta para dentro para que isso seja, de fato, uma mudança de cultura. Em 2020, a gente começou o ano muito focadas na consolidação dessa estratégia de ter um braço mais corporativo ,e focamos no segundo semestre do ano para cá, na questão da formação para mulheres que já atuam na área da tecnologia hoje, e como que a gente colabora ali com elas para acrescentar uma linha no currículo delas, né, quais são as skills, quais são as habilidades necessárias que esse mercado que mais cresce no mundo inteiro, que é o mercado de tecnologia, tem exigido.
Marcelo Abud:
E de que forma o seu envolvimento com a promoção da diversidade e da equidade de gênero tem impactado na vida das pessoas? Você pode compartilhar alguma experiência, Silvana?
Silvana Bahia:
Tem uma coisa muito forte quando eu estou em um espaço falando sobre a experiência do Pretalab, o brilho do olho de outras mulheres que se identificam de alguma forma, “Nossa eu quero trabalhar nisso!”, “Isso também pode ser um passo para mim”, que são impactos que a gente não tem indicador que dê conta, né, como a gente mensura brilho no olho. Mas eu acho que o impacto interessante, que vale a pena trazer para cá, é de perceber o quanto que muitas mulheres que não viam a tecnologia como uma possibilidade para si, começam a enxergar as tecnologias como um lugar que é possível também para elas. Conto isso porque, recentemente, eu estava chegando em Recife, antes da pandemia, no ano passado, uma mulher me escreveu falando: “Silvana, eu queria te contar uma coisa. Eu fiz Direito, e nunca achei que a tecnologia fosse um lugar para mim, mas quando eu conheci o Pretalab, eu me identifiquei muito e agora eu faço uma pós em Direito Digital”. É isso que também esse projeto se propõe né, estimular essa mudança de mindset, de cultura, e principalmente de possibilidade para as mulheres negras. Eu recebo alguns feedbacks de mulheres que estão na nossa rede e falam: “Nossa Sil, eu consegui um trabalho naquela vaga que você divulgou”. São elementos para olhar para esse impacto que a gente tem criado, e a gente quer que seja maior, não só a PretaLab, mas que isso seja uma semente de fato.
Renata Pifer:
No mês de novembro, nós temos o Dia do Empreendedorismo Feminino e o Dia da Consciência Negra, datas que têm tudo a ver com Mobilidade Social, que é uma das causas abraçadas pela Fundação. Como você vê a relação entre essas datas e a Mobilidade Social, e de que forma cada um de nós pode apoiar e contribuir com essa causa?
Silvana Bahia:
Eu acho que pensar no Dia do Empreendedorismo Feminino e no Dia da Consciência Negra é pensar nessa interseccionalidade do que que é ser uma mulher negra empreendedora. Têm dados que dizem isso, né, que mulheres negras são as que mais empreendem. Eu acho isso um dado interessante, mas eu acho que ele também demonstra uma outra questão que é mais dura, que é o fato de também não estarmos tão absorvidas em empregos formais. A gente não empreende porque, aí, temos o dom necessariamente, mas porque muitas vezes empreender se torna uma necessidade. A gente pode contribuir e apoiar de várias formas. Como que a gente abre espaço ou para que existam mais empreendedoras, ou para que a gente absorva mais mulheres dentro do mercado formal de trabalho. E isso passa desde olhar como que a gente contrata, onde a gente procura quando a gente contrata, e aí vão de coisas que são micro ao macro mesmo, né. E eu estou muito focada, hoje, em pensar no impacto das micro ações, porque a gente fica sempre querendo também algo que seja muito grande e, na verdade, não é sobre isso. A gente está falando de problemas que são estruturais na nossa sociedade, e que não é uma ação pontual que resolve, mas eu acho que se a gente pensar que é um fractal, tem várias ações que dão conta aí desse apoio, dessa contribuição, para de alguma forma mitigar aí, né, boa parte dessa desigualdade que a gente vive.
Marcelo Abud:
Silvana, o microfone está aberto para suas considerações finais, por favor.
Silvana Bahia:
Bom, eu queria agradecer o convite de poder compartilhar um pouco do que a gente faz, um pouco para onde nós estamos olhando. Vivemos hoje um momento onde a única certeza é a incerteza, mas também acho que a gente está numa fase que a gente pode repactuar os nossos acordos sociais, os nossos pactos sociais. É importante também olhar para o que a gente pode desaprender num momento como esse, já que a gente já acumulou tanta coisa até aqui, pra poder caber outras coisas. E dito isso de uma forma muito metafórica, eu tô querendo dizer que como que a gente revê os nossos acordos sociais no sentido de, cara, vamos trabalhar para de fato reduzir a desigualdade? Porque isso é possível, e uma outra coisa que eu queria dizer é que a gente também tem que pensar em novos indicadores para medir toda essa novidade que a gente tem se proposto a lidar, para entender que impacto é esse que a gente está gerando a partir dessa novidade que a gente está construindo agora.
Fundo musical.
Renata Pifer:
Em nome da Fundação Grupo Volkswagen, agradecemos a super participação da Silvana Bahia, Co-diretora Executiva do Olabi, e Coordenadora do PretaLab.
Marcelo Abud:
Encerramos o sexto episódio e a primeira temporada do Vida em Movimento. Aprendemos muito com as convidadas e os convidados que estiveram conosco, e esperamos que você também!
Renata Pifer:
Foi um imenso prazer estar com você! Espero que tenha gostado também. Conte pra gente as suas experiências ouvindo nosso podcast! E fique à vontade para sugerir os temas que você gostaria de ouvir em nossa segunda temporada.
Marcelo Abud:
A produção e o roteiro do “Vida em Movimento” são da Espiral Interativa e da Peças Raras Produções em Áudio, em parceria com a Fundação.
Renata Pifer:
Siga conectado com a gente pelas redes sociais da Fundação Grupo Volkswagen. Obrigada e até a próxima temporada!
Fundo musical.
Narrador:
“Vida em Movimento”, o podcast da Fundação Grupo Volkswagen.
Fundo musical.