Vida em Movimento #05 – Inclusão de pessoas com deficiência
Fundo musical.
Narrador:
“Vida em Movimento”, o podcast da Fundação Grupo Volkswagen.
Fundo musical.
Marcelo Abud:
Olá! Seja bem-vinda e bem-vindo a mais um Vida em Movimento, o podcast da Fundação Grupo Volkswagen. Eu sou Marcelo Abud, professor e podcaster.
Renata Pifer:
E eu sou Renata Pifer, internacionalista e integrante do time da Fundação.
Fundo musical.
Marcelo Abud:
Como tem sido nos últimos episódios, a gravação continua sendo feita de forma remota.
Renata Pifer:
Você sabia que há 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil? Já pensou nas barreiras que esses cidadãos enfrentam para estudar, entrar no mercado de trabalho, comprar pela internet, se divertir ou até mesmo se locomover pela cidade?
Marcelo Abud:
A inclusão de pessoas com deficiência, uma das causas de atuação da Fundação Grupo Volkswagen, é o tema do nosso episódio de hoje.
Fundo musical.
Marcelo Abud:
Para entender melhor sobre nosso papel na inclusão das pessoas com deficiência, convidamos o fundador e superintendente do Instituto que leva seu nome, Rodrigo Hübner Mendes.
Renata Pifer:
Muito obrigada, Rodrigo, pela sua participação neste quinto episódio do Vida em Movimento!
Rodrigo Hübner Mendes:
Oi Renata, prazer participar.
Marcelo Abud:
Rodrigo, pra começar nosso papo, você pode explicar qual é o termo adequado para se referir às pessoas com deficiência?
Rodrigo Hübner Mendes:
Porque que se optou por pessoa com deficiência, ou aluno com deficiência, ou profissional com deficiência? Que é a nomenclatura adotada pela própria ONU (Organização das Nações Unidas). Resumindo, por dois fatores: essa expressão ela não disfarça a existência de uma diferença, e evita a armadilha de a gente partir para argumentos simplistas, como “no fundo, todo mundo é imperfeito”, “no fundo, todo mundo tem uma deficiência”. E por outro lado, ela favorece a consciência de aqui, em alguns casos, a gente precisa oferecer um tratamento desigual para que a gente promova equidade.
Renata Pifer:
E apesar das pautas de diversidade e inclusão serem discutidas cada vez mais na sociedade, a gente sabe que ainda há muitas barreiras que precisam ser superadas, né? Você poderia citar pra nós quais foram as principais conquistas dos últimos anos? E como precisamos evoluir, principalmente na educação e no mercado de trabalho para promover, de fato, a inclusão das pessoas com deficiência?
Rodrigo Hübner Mendes:
Eu vou dar um panorama aqui sobre o nosso momento atual.
Nos últimos dois, pela primeira vez na história, 90% dos alunos com deficiência que estavam matriculados na Educação Básica, já estavam estudando em escolas inclusivas. Então esse é um número extremamente avançado, mesmo quando a gente compara com outros países que se destacam nessa temática.
Várias pesquisas estão apontando que hoje, a maioria das pessoas, já enxergam o modelo inclusivo como o mais adequado para que a criança com deficiência se desenvolva. A questão é como é que a gente implementa esse modelo.
Tem uma outra pesquisa recente que mostra que 70% dos professores brasileiros se sentem inseguros, com baixa capacitação sobre como atender a esse público na sala de aula comum. É como se os professores já estivessem com um pé em uma nova canoa, nessa canoa da educação para todos, e outro pé ainda em uma canoa antiga em virtude da falta de conhecimento para esse novo. Nosso papel, então, é apoiar os profissionais, os professores, para que eles abandonem essa canoa antiga, e prosperem numa canoa muito mais bacana,eu ainda diria, que é onde todo mundo tem espaço.
Vamos falar um pouquinho sobre o mundo do trabalho. Desde 91 que existe no Brasil uma lei chamada Lei de Cotas. E esse dispositivo determina que as empresas com mais de 100 funcionários precisam contratar pessoas com deficiência a partir de uma lógica progressiva de percentuais, dependendo do tamanho da empresa ou organização.
No ano passado, eu acompanhei de perto uma pesquisa sobre qual é o cenário atual da participação dessas pessoas no mercado de trabalho. E a pesquisa revelou que as empresas avançaram muito no sentido de pensar sobre esse tema, de colocar isso como uma agenda, mas, em geral, estagnaram em uma abordagem voltada exclusivamente para o cumprimento da cota. São raros os casos que a gente observa, de verdade, uma aposta, um investimento para que a pessoa com deficiência tenha perspectivas de crescimento na carreira.
E aí, essa pesquisa mostra que existem duas alavancas decisivas para que a gente continue avançando nesse processo de inclusão no mercado de trabalho. Em primeiro lugar, o desejo da empresa pra promover a inclusão, e isso envolve transformação cultural, formação de lideranças e uma gestão contínua. E a segunda alavanca, é o investimento na capacitação, no desenvolvimento e na carreira dessas pessoas que, muitas vezes, chegam na empresa com uma formação que precisa ser complementada.
Marcelo Abud:
E, Rodrigo, aproveitando que tocamos na pauta da educação, gostaríamos de comentar sobre o trabalho que você faz junto com o Instituto Rodrigo Mendes, que é parceiro da Fundação. Conta pra gente: como surgiu o Instituto e de que forma esse trabalho tem sido reconhecido dentro e fora do Brasil?
Rodrigo Hübner Mendes:
Então Marcelo, a gente trabalha para que nenhuma criança ou adolescente fique de fora da escola por causa de uma deficiência. Como é que a gente faz isso? Em primeiro lugar, identificando melhores práticas de educação inclusiva ao redor do mundo e oferecendo essas referências para quem tá na sala de aula. A gente faz isso por meio de um portal chamado Diversa. A ideia não é oferecer um receituário, isso não existe em educação, mas ampliar o repertório dos professores. No segundo eixo de atuação, a gente investe em formação dos profissionais das redes. Então a ideia é contribuir com esse outro desafio que é tornar a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) de fato uma referência, uma base para os currículos e para o que está acontecendo na sala de aula.
Renata Pifer:
Rodrigo, nós queremos saber também, um pouco, como que você vê a questão da inclusão da pessoa com deficiência em outros países.
Rodrigo Hübner Mendes:
Então, Renata, no começo do ano eu participei de uma conferência que acontece na Áustria todo ano, chama-se Zero Project. Eu venho participando há quatro anos, e o objetivo dessa iniciativa é dar visibilidade ao que está acontecendo em termos de inovações nesse campo. O tema era educação. Enfim, tive a chance de acompanhar 75 práticas e 11 políticas inovadoras de 54 países.
Então, por exemplo, na Namíbia, tinha lá um exemplo do Ministério da Educação que criou uma política setorial de educação inclusiva para garantir que toda criança participe integralmente do sistema educacional. Assim como a gente vem tentando fazer no Brasil.
Só fazendo um parêntese, a gente vem apoiando o governo de Angola. O Instituto foi contratado em 2015, pra que lá, em Angola, eles também desenvolvessem uma política nacional específica pra esse tema. A política foi escrita e assinada pelo Presidente e está sendo implementada.
Eu vi também uma experiência da Jordânia, em que crianças de diferentes religiões aprendiam juntas. Tinha toda uma desconstrução do modelo da escola especial pra crianças cegas, e uma política ali, um arranjo onde as crianças com deficiência visual, desde a primeira idade, iam para a escola com as demais, o que em alguns lugares ainda não acontece.
Enfim, mais uma conversa interessante que eu tive e, que, já faz algum tempo, eu fui para um encontro na Dinamarca, da Agência Europeia, voltada para essa temática, e eu consegui entrevistar a integrante do Ministério de Educação da Finlândia. Finlândia é um país que sempre se destaca nos rankings internacionais sobre qualidade de ensino. Ela se chamava Pirjo Koivula. Quando eu perguntei pra Pirjo como que eles conseguiam conciliar a busca por desempenho acadêmico com o acolhimento, ela explicou que lá na Finlândia eles estão investindo muito no suporte ao aluno. É interessante que eles abandonaram a expressão special education. Educação especial ainda é, vamos dizer, a expressão adotada internacionalmente, e eles abandonaram por entender que aquilo estava gerando um estigma. Aquilo marcava o aluno. Eles acreditavam que, no fundo, qualquer aluno, independentemente da sua característica, pode precisar, em algum momento, de atenção individualizada. Então os professores são orientados pra identificar, diariamente, que alunos precisam de apoio, e as pessoas com deficiência fazem parte desse processo. São tratadas, vamos dizer, da mesma maneira no sentido de ter o direito a esse apoio personalizado. Então, é interessante pensar que o próprio nome dessa modalidade, às vezes discrimina.
Marcelo Abud:
Rodrigo, o microfone está aberto para as suas considerações finais.
Rodrigo Hübner Mendes:
Foi um prazer participar, queria parabenizar a Fundação Grupo Volkswagen pelo relevante trabalho que vem desenvolvendo nos últimos anos, tem colocado essa temática como uma prioridade. A gente cada vez mais reforça a ideia de quando a escola se torna um espaço que abraça a diversidade, a gente mira o nosso leme para uma sociedade que não vai mais aceitar abismos sociais como os que a gente tem hoje, onde todo mundo, de fato, vai ser tratado como igual. O mundo melhora quando a escola inclui todos. E é ótimo estar com vocês nessa jornada!
Renata Pifer:
Com certeza, Rodrigo, pra nós também é uma honra. Ficamos muito felizes com essa parceria nos nossos projetos e, agora também, aqui no podcast. Então, em nome da Fundação Grupo Volkswagen, obrigada Rodrigo!
Fundo musical.
Marcelo Abud:
Aguardamos a sua participação através das redes sociais da Fundação. Conte pra nós quais movimentos você tem feito em sua vida e na comunidade, para que o mundo seja um lugar mais equitativo e sustentável.
Fundo musical.
Renata Pifer:
A produção e o roteiro do Vida em Movimento são da Espiral Interativa e da Peças Raras Produções em Áudio, em parceria com a Fundação.
Renata Pifer:
Siga conectado com a gente pelas redes sociais da Fundação Grupo Volkswagen. Obrigada e até a próxima!
Narrador:
Vida em Movimento, o podcast da Fundação Grupo Volkswagen.